Indo direto para a resposta: de fato, o acesso a todo o tipo de conteúdo na internet é algo inquestionável. Seja ele de maior ou menor qualidade, vindo de fonte confiável ou não, você é (e continuará sendo) totalmente livre para consumir o que quiser.
Por isso, o meu objetivo com esse texto não é oferecer um substituto à sua liberdade, ou te vender uma ideia forçada, mas compartilhar algumas reflexões com você acerca das possibilidades de consumo de conteúdo e experiência que esse formato trás.
Ao final do texto, fica a seu critério responder se vale ou não à pena assinar um grupo online, combinado?
A multiplicidade dos grupos online e seus usos
Não vamos nos enganar. Nós sabemos que grupo online ainda é, para muitas pessoas, sinônimo de grupo da família, faculdade e trabalho. O nosso primeiro passo, portanto, será expandir e atualizar a sua compreensão sobre eles.
Partindo da definição literal de que os grupos online são criados em plataformas como WhatsApp e Telegram para a troca de mensagens, quando eles são pagos, suas assinaturas podem variar entre o pagamento único, mensal, quinzenal, e por aí vai. Em relação ao formato, existem quatro tipos populares de grupos pagos entre os criadores de conteúdo:
01. Grupos de Desafio
Um grupo de desafio nada mais é que um programa estruturado para alcançar um objetivo final. Normalmente são grupos de curta duração e seus membros são desafiados todos os dias a cumprir tarefas para no final atingir as metas estabelecidas.
| A Alessandra Marchiori, por exemplo, é uma advogada que administra um desafio fitness chamado Desafio da Lele, que conta com +30 mil alunas inscritas.

02. Mentorias
Os grupos de mentoria focam em um processo de aprendizagem de médio prazo. O grupo é estruturado com um viés mais de acompanhamento e evolução. O criador tem o programa já estruturado, mas como o engajamento no grupo é alto, ele tem flexibilidade de adaptar o conteúdo de acordo com a necessidade dos membros.
| O Caio Caetano dava aulas de violão presenciais antes da pandemia e criou o seu primeiro grupo de mentoria ano passado, o grupo Caê de Violão.

03. Comunidades
O grande motor desse formato de grupo é a comunidade e a troca que ela possibilita. Uma comunidade online é um grupo virtual onde pessoas com objetivos em comum, se reúnem em torno de tópicos, produtos ou carreiras para compartilhar ideias, fornecer dicas ou agir como mentores.
| O Gabriel Dias é especialista em viagens há 11 anos, dono do blog Falando de Viagem, e hoje administra mais de 10 comunidades online em que compartilha dicas de como podemos viajar mais e melhor.

04. Canais de Transmissão
Esse é o formato ideal para quem busca velocidade na troca de informações. Muitos grupos voltados para dicas e palpites de investimento utilizam esse formato. Como essas informações são perecíveis, é uma forma de manter a audiência sempre atualizada e engajada.
| O Pedro Ortega é criador de conteúdo e gerencia o maior canal de apostas esportivas do Brasil, com +10 mil assinantes, em que compartilha suas tips no mundo do esporte nacional e internacional, o Ortega Tips.

Não sei você, mas pra mim uma blogueira fitness, um especialista em viagens, um professor de violão e um apostador profissional representam áreas de conhecimento bastante diversas — todas elas bem diferentes dos grupos de família e trabalho, né?
E o interessante é perceber como tanto o criador, quanto o consumidor tem usos e benefícios diferentes de acordo com cada formato.
Nós complementamos experiências, não excluímos
Do ponto de vista do criador, o grupo pago é sinônimo de receita recorrente, aproximação com a sua comunidade e não obriga a escolha de um canal ou outro de conteúdo. Utilizando o exemplo do Gabriel Dias, o especialista em viagens, além das suas comunidades, ele possuí o blog Falando de Viagem há mais de 10 anos, canal consolidado e conhecido por quem consome o seu conteúdo.
A comunidade e o blog são canais diferentes, com propostas diferentes e conteúdos diferentes. Em linhas gerais, a comunidade possibilita a troca constante de informações e construção de relacionamentos, de maneira dinâmica, enquanto o blog funciona como uma revista eletrônica, com conteúdos mais editoriais. Sendo ambos complementares.


O que do ponto de quem consome é ótimo, porque nós não temos problemas em acessar conteúdos de canais diferentes, especialmente no formato mobile. Inclusive, preferimos ter mais de uma fonte de entretenimento, podemos acessar e interagir de formas diferentes com as outras pessoas. Algo que pode ser explicado por um efeito chamado network efffect:
"A communication network gets more valuable as more people join it. Just so we’re using the canonical understanding: The classic example is the telephone. The more people who own telephones, the more valuable the telephone is to each owner. This creates a positive externality because a user may purchase a telephone without intending to create value for other users, but does so in any case." (WhatsApp and the Erosion of the Network Effect — The Atlantic).
Em outra oportunidade, no artigo Cursos Online estão com os dias contados (não é clickbait), nós falamos sobre como as comunidades são mais do que a sua audiência nas redes sociais, sendo inclusas no core das entratégias de negócios de gigantes como a Glossier, Duolingo, Patreon e etc.
Do lado dos negócios, estamos percebendo que os verdadeiros insights vem da rede que consome diariamente o seu produto e nós precisamos nos manter próximos, se quisermos construir algo com sentido.
Já, do lado de quem consome, os benefícios são outros.
Você engajado, uma experiência de troca rica
No começo do ano passado, o fundo de venture capital, Atelier Ventures, focado em passion economy, publicou um artigo sobre como ter 100 bons fãs, ao invés de 1000 consumidores, é mais potente para a sua construção de marca.
"Rather than pursuing widespread celebrity, creators only needed to engage a modest base of “true fans” — those who will “buy anything you produce” — to the tune of $100 per fan, per year." (for a total annual income of $100,000).(1,000 True Fans? Try 100 — Atelier Ventures)
Os benefícios de ter uma base sólida de fãs engajada é incalculável para quem produz o conteúdo, mas para quem consome, não é algo tão simples estar e se manter engajado. E isso é um ponto que o grupo online tem uma facilidade maior em alcançar.
É pelo celular que a maior parte dos brasileiros acessam a internet, faz sentido produzir conteúdo para ser consumido na tela do celular. Assim, fica mais fácil aprender com vídeos curtos, audios e imagens.
Em um grupo pago as trocas são mais verdadeiras. Só quem tem interesse está no grupo. As pessoas ficam muito mais motivadas aconsumir o conteúdo e participar de conversas no chat. Muito diferente dos cursos com aulas gravadas, que possuem taxa de completude baixa.

Além de aprender com o dono do grupo, também trocamos muito com as outras pessoas que fazem parte. Esse networking pode render boas amizades e também parceria de negócios. Cada vez que um conteúdo novo chega, ele gera uma onda de novas conversas. É como se tivesse acabado de sair um episódio novo da série de TV que todo mundo está assistindo.
No caso da Alessandra Marchiori, sua comunidade é engajada no nível de investir contínuamente no serviço, mesmo com o grupo de desafio tendo uma duração determinada. A criadora realiza diversas lives, possui uma equipe de profissionais habilitados para lidar com o tema, como nutricionista, personal trainer e etc.
Isso tudo para dizer que em um grupo online, você tem uma rede que te acolhe e te impulsiona a aprender. Consequentemente, você se sente engajado a continuar ali e nutrir relações com pessoas que estão com objetivos e interesses parecidos com os seus.
As comunidades online ocupam um espaço importante no nosso dia a dia, por maior ou menor o grupo, ter o espaço de reflexão e exercer a sua individualidade com pessoas queridas, faz toda a diferença pra nós todos.