Essa semana, nós entrevistamos o Matheus Fernandes, um designer e diretor criativo, que criou a comunidade Reforma Sem Obra: um desafio que vai te ensinar a decorar a sua casa com o que você tem hoje, interpretando esses sinais sem idealizar demais, respeitando a sua história com a sua casa e também suas limitações, quer seja de espaço, de grana ou de qualquer outra natureza.
Sobre o que é o seu grupo em uma frase?
"É sobre fazer o que dá pra fazer com o que você tem disponível", e usar essa linha de pensamento para ajudar as pessoas a colocarem a personalidade delas na casa delas.
Da onde surgiu a ideia do grupo e o que te motivou?
A ideia do grupo surgiu há muito tempo atrás, eu sempre tive vontade compartilhar as minhas inspirações de decoração com as pessoas, eu crio conteúdo nas redes sociais por causa disso. Com a pandemia, a relação com a nossa casa mudou porque à medida que ficamos mais em casa, nós observamos e sentimos mais aqueles incômodos que a gente só empurrava pra de baixo do tapete. Trabalhando remoto, quantas pessoas foram obrigadas a improvisar do dia pra noite um novo ambiente de trabalho? Não é todo mundo que consegue se adaptar bem.
A pandemia acabou evidenciando a nossa relação com a casa, e para algumas pessoas essa relação sempre foi muito afetiva, uma relação de criação e de criatividade, para outras não. Então, criar a comunidade foi quase que uma coisa inevitável nesse momento, por causa do momento propício, junto com a preocupação de criar um curso que fizesse sentido para as pessoas e fosse verdadeiro, sabe?

Você está mostrando que reformar pode ter muito significado. Como foi o processo de criação do seu grupo de reforma?
Eu já tinha algumas coisas em mente, mas outras eu tive que parar e refletir: pera, como que eu faço isso? Eu tenho que ensinar para as pessoas como eu faço tal coisa de uma forma simples e que elas entendam. Então a criação do curso vem muito da busca por explicar para as pessoas o que não cabia em um post no Instagram, ou blog e vídeo no Youtube.
A lógica de criação foi: quais são os passos, dentro de algo que as pessoas conseguissem reproduzir em casa, de forma autônoma e pelo resto da vida? Com um olhar prático, objetivo e transparente. Além disso, teve toda a outra parte de estruturação mesmo, o que a plataforma ajuda porque as pessoas aprendem através de um lugar que todo mundo usa: os bate-papos. Considerando que todos nós temos outras tarefas diárias, então precisa ser simples, gostoso de ver e ser relevante. Afetivo sem ser clichê.
Se pudesse voltar no tempo, o que falaria para aquela criança esperançosa que amava revistas de decoração?
Eita, não vou chorar aqui, hein? Eu acho que todo o curso foi muito pautado nisso porque hoje a ideia do curso é falar com pessoas que tem algum tipo de limitação. Como o Matheus (eu), tinha lá atrás. Quer seja uma limitação de processo porque eu não tinha técnica, então eu olhava para as revistas e o que me intrigava era pensar como eu podia fazer pra chegar lá.
Então, eu tentava adaptar essa vontade pra minha realidade, sem ter grana ou recurso pra decoração. O olhar desse Matheus lá atrás foi fundamental para eu lembrar quais eram as minhas limitações e perceber que elas não deviam ser limitações, porque tem inúmeras formas de fazer e investir no que faz sentido.
Eu diria para ele continuar olhando e sendo curioso porque tudo faria sentido mais pra frente, que tudo faria sentido porque o processo é fluido e não tem uma forma correta única de fazer.

Para muitos, decorar a sua própria casa parece irreal. Você tem algum recado para essas pessoas?
Eu diria que eu sou a prova de que é possível sim e mais, de que é muito gostoso. Eu sei também que não é todo mundo que gosta, mas falando das pessoas que gostariam, é um processo que exige dedicação, tempo e conhecer o seu próprio gosto. Saber filtrar e entender o que você gosta de verdade. Você já tem os insumos necessários pra começar!
O seu trabalho é lindo. Quais são as suas principais inspirações?
Fico muito lisonjeado que o meu trabalho soe bonito e inspirador para outras pessoas! As minhas inspirações são muito diversas, eu tenho inspirações no meio de arquitetura e design de interiores? Tenho!
Eu tenho a Dorothy Draper, uma arquiteta dos anos quarenta que criou um livro de como adaptar as ideias dela pra realidade de qualquer pessoa, a India Mahdavi, o foco dela sendo em interiores, o Mauricio Arruda, como alguém que tem feito um trabalho tão incrível, de pensar a casa de uma forma natural e ajudar a desconstruir preconceitos bobos que a gente tem, a Raiza Costa, que é da confeitaria, mas é uma mente muito criativa e muitos outros: Tim Walker, Jimmy Marble; Wes Anderson, Luca Guadagnino, Zaha Hadid.

Por último, um estilo de decoração que você deletaria e um que você faria atemporal?
Eu não consigo pensar em um estilo de decoração que eu deletaria, o que eu deletaria, que foi o que eu fiz pra minha vida, foi deletar qualquer coisa que fosse genérico, qualquer coisa que seja um modismo, principalmente hoje quando pensamos na situação do planeta, em que temos um estímulo interminável do capitalismo de comprar sem reutilizar as coisas que já temos. Deletaria essa forma efêmera de pensar sobre decoração e as nossas coisas.
Já o que é atemporal é o que vai fazer sentido para cada pessoa. Hoje eu entendo o que é atemporal para mim: peças que tem um design legal, que atrai o meu olho e me arranca suspiros, um frio na barriga e tem que combinar com as outras coisas que eu tenho pra eu não ter que mudar o ambiente inteiro. O meu foco sempre é sobre o estilo pessoal e é isso que é atemporal pra mim.
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